No empreendedorismo, as rosas também têm espinhos!

Por: Ana Barros, CEO Martech Digital
Meio: Link to Leaders (30 de junho 2023)

Quando falamos de empreendedorismo, a tendência é destacar o lado positivo deste percurso. É comum romantizar uma jornada de realização, “fazer acontecer” e os sucessos que daí resultam.

No entanto, como em tudo na vida, empreender vai muito mais além do que se mostra. Trata-se precisamente da ponta do iceberg que as pessoas não veem, aquela que está abaixo da linha de água. Há que levantar o véu e dar uma visão realista das verdadeiras dificuldades, umas menos visíveis do que outras, do que significa ser empreendedor. Afinal, toda a rosa tem os seus espinhos.

Empreender não se trata apenas de alcançar metas financeiras ou construir um império empresarial. E um empreendedor não é necessariamente um líder. Ser empreendedor e ainda um líder, é a cereja no topo do bolo, e vai muito mais além. 

É uma jornada que sabemos o dia em que começamos, mas nunca o dia em que acabamos, por ser todo um processo de autoconhecimento do líder e aprendizagem constante.

Eu costumo dizer que para ser empreendedor e líder há que ter perfil e é só para aqueles que têm um ‘Q’ de loucura e que estão dispostos a começar do zero todos os dias, assim como saírem constantemente da sua zona de conforto

E isto porque, todos os dias, teremos de saber lidar com frustração, resiliência, rejeição, prazos, noites sem dormir, sacrifício do tempo pessoal, persistência, custos, impostos, disciplina e determinação.

No fundo, é sobre o crescimento pessoal sem fim e o impacto positivo que podemos ter na vida das pessoas que nos rodeiam. É sobre um propósito. É influenciar aqueles que nos rodeiam a serem melhores do que nós mesmos. 

Apenas através de uma dedicação, exemplo e formação contínua e, acima de tudo, um profundo autoconhecimento, é que o empreendedor consegue desempenhar o papel de líder e cuidar do crescimento dos outros, ou seja, formar futuros líderes. Afinal, há que passar o legado.

Falemos então de forma realista e vamos por partes: existe algo inerente ao empreendedorismo – Money, Money, Money. A instabilidade financeira é uma das primeiras dificuldades da nossa jornada. No início, quando ainda não existe um fluxo de clientes estável, gerar receita e arcar com as despesas pode ser especialmente desafiante. 

Nenhum business plan é indiferente a crises económicas e sociais, pelo que a capacidade de ter modelos agile e adaptáveis, com a destreza de conseguir olhar “mais além”, pode, muitas vezes, ser a salvação do negócio. Além disso, é importante que estejamos atualizados das ferramentas/tecnologia do mercado que estão ao nosso dispor para fazer as coisas acontecerem.

Por outro lado, quando se resolve construir o próprio caminho profissional, torna-se impossível não abdicar de outras coisas a nível pessoal. Embora o empreendedorismo ofereça flexibilidade e independência, a necessidade de fazer o negócio prosperar e atingir as nossas metas, pode resultar numa falta de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. 

Consequentemente e infelizmente, isto afeta relacionamentos, saúde mental e o bem-estar, tornando crucial encontrar formas de conciliar estes dois aspetos importantes da vida. O tal yin-yang. O fio que une estes dois mundos é muito ténue e facilmente se pode partir, portanto, há que encontrar uma forma de o manter amarrado. Como? Ainda não sei. Estou a aprender dia após dia. Afinal, tal como já disse, isto é tudo uma jornada.

Toda esta incerteza, em conjunto com a necessidade de tomar decisões importantes constantemente, lidar e gerir pessoas e os seus comportamentos tão humanos, leva a algo que tenho vindo a discutir: o burnout dos líderes.

Empreender pode ser solitário e exigente, mas é importante reconhecer a responsabilidade de gerir pessoas e negócios e evitar a culpa mal administrada.

Como impedir que nos tornemos uma bomba tick tack prestes a explodir? Difícil, pois não existe remédio santo. Mas podemos começar por um bom coaching. Procurar autoconhecimento e formação.

Assim como nos desportos de alta competição, em que os atletas são acompanhados por treinadores para alcançar o seu melhor desempenho, os empreendedores também devem procurar orientação e apoio adequados. Uma boa mentoria pode ajudar a superar as dificuldades inerentes ao empreendedorismo e liderança.

Ao reconhecer e superar os desafios, a pressão constante, a conciliação entre a vida pessoal e profissional, e promover o autoconhecimento e o desenvolvimento de habilidades de liderança, podemos criar uma cultura empreendedora mais saudável, resiliente e com espírito de liderança.

E, além do acesso a recursos financeiros e educacionais, é crucial que os próprios empreendedores reconheçam a importância de procurar apoio e recursos.

Isto inclui, estar aberto a aprender com outros empreendedores, partilhar experiências e conhecimentos, e manter-se atualizado sobre as tendências e mudanças do mercado. Lá está, convidar-se a sair da zona de conforto e usar mais os seus dois ouvidos e os dois olhos.

Com as ferramentas certas é possível ajudar os empreendedores a enfrentar os obstáculos de forma mais eficaz, promovendo um ambiente propício ao desenvolvimento sustentável das empresas. Portanto, vamos reconhecer as dificuldades, apoiar-nos uns aos outros e trabalhar para criar um ecossistema empreendedor.

O empreendedorismo é um caminho desafiante, mas também repleto de possibilidades e recompensas. Transformar os nossos sonhos em realidade não é uma tarefa fácil. Devemos munir-nos da equipa certa e considerar os desafios como oportunidades. 

Resiliência, espírito de equipa, mente aberta e muita paciência, meus amigos. Só assim as nossas belas rosas (e os seus espinhos) continuarão a crescer.

Dicas de leitura

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