“A gestão de pessoas é o grande desafio das organizações do setor da tecnologia”

Por: Exame
Meio: Exame (27 de junho de 2024)

Num setor no qual a disputa pelo talento é tão férrea, como pode a cultura de uma empresa fazer a diferença?

A gestão de pessoal é muito difícil. Atualmente, é o grande desafio das organizações no setor das tecnologias. E, neste setor, muitos dos seus líderes não estão preparados para esse desafio”, defende Ana Barros, CEO da Martech Digital.

Para a gestora, que falava no painel subordinado ao tema “Cultura Organizacional e Retenção de Talento”, na conferência “Gestão de Talento no Setor da Tecnologia”, existe um antes e um depois de 2020. “Os canais que eram utilizados antes da pandemia já não são os mesmos. Hoje temos inúmeras formas de comunicar e, com o digital, podemos chegar a todos os colaboradores e amplificar a mensagem. Mas perdemos um dos fatores mais importantes: o estar diretamente com as pessoas, a conversa cara a cara, o convívio enquanto se bebe café, etc”, explica.

Esta é uma nova realidade que tem outros reflexos na forma como as empresas organizam o trabalho. Para Mariana Delgado, manager of information technology da Randstad Portugal, o modelo híbrido “é o mais consensual que vigora atualmente nas organizações. Mas essa transição envolve alguma adaptação. Temos de dar tempo às pessoas, desde que isso não tenha um impacto direto naquilo que é o negócio da empresa”.

Mas entre o que se ganha e o que se perde, o trabalho híbrido é um aliado ou um obstáculo para a empresa?

A responsável da Randstad vê a tecnologia como um aliado para a gestão pois está a tornar-se “um veículo de inclusão de outros colaboradores”, como pessoas com mobilidade reduzida, e assim, a “criar uma força de trabalho mais diversificada” que enriquece a cultura da empresa.

Vítor Barros, manager da Askblue, partilha da mesma opinião. Não vê o trabalho remoto como um obstáculo e vê “inúmeras vantagens” nesta novo formato:

“Começamos a transpor para o digital aquilo que vivíamos no presencial. Gosto de ter reuniões online, onde posso partilhar conteúdos, dar exemplos, etc. Temos imensas ferramentas que possibilitam ganhos de produtividade com o trabalho remoto”, explica,

Em termos de gestão de pessoas e retenção de talentos dentro das organizações, Rita Marques, happiness manager & global marketing da Milestone, defende que as empresas “têm de ser genuínas” nos relacionamentos com os seus colaboradores e criar iniciativas que se ajustem às suas necessidades. “Se as empresas não refletem a parte humana as pessoas vão sentir um pouco que estão a ser alvo de publicidade enganosa. Podemos ter milhares de iniciativas, mas se estas não forem bem concebidas, vão passar ao lado das pessoas. Nós tentamos criar eventos que vão ao encontro daquilo que os colaboradores necessitam ou se sentem mais propensos naquele exato período de tempo. Ajustamos os seus ciclos às iniciativas que podemos propor e vamos fazendo ajustes”, afirma.

“Temos de criar vínculos emocionais. Os momentos mais colaborativos não devem ser impostos. Têm de ser as próprias pessoas a perceber que perderam um evento interessante. E a melhor forma de isso acontecer é através da reação dos colegas”, reforça Mariana Delgado.

Já no que se refere à captação e retenção de talento, todos os conferencistas foram unânimes na importância que a cultura da empresa tem para esse processo.

“A cultura de uma organização é o seu ADN. São os valores que a norteiam. E tudo começa de cima. É a liderança que deve ter e praticar esses valores para que haja um fio condutor em toda a organização. Isso é das coisas mais fundamentais que se devem ter em consideração quando queremos captar e reter pessoas”, diz Ana Barros.

Também Vítor Barros é apologista que todo este processo tem de ter origem nas chefias: “O papel do CEO é muito importante. É ele que lança o mote. Se o presidente de uma empresa passa para o mercado que nós não estamos aqui para fazer o bem, as pessoas que permanecem na empresa vão seguir essa cultura”.

“A cultura tem um papel determinante e pode ser um fator estratégico e distintivo dentro das organizações. Quando falamos em atrair e reter talento, o desafio está em proporcionar esse alinhamento de valores entre a empresa e o indivíduo para que consigamos que esse talento permaneça”, acrescenta Mariana Delgado.

Nesta matéria, Rita Marques destaca ainda a importância dos chamados líderes informais, que, para ela, são “dos elementos mais importantes” em qualquer organização”.

“É a esses que temos de dar mais ferramentas para que possam ser mais musculados, pois são eles que fazem a cola dentro da empresa. Muitos deles serão os futuros responsáveis pelas equipas”, diz Rita Marques, mas deixa o alerta: “temos de saber exatamente o que querem fazer e quais as suas ambições futuras. As escadas de progressão de carreira que anteriormente estavam definidas já não podem ser aplicadas. Temos de nos ajustar ao que as pessoas pretendem e para onde querem ir”.

Uma coisa uniu os quatro oradores: o salário é importante mas a cultura faz a diferença ao ser distintiva e ao gerar pertença nas pessoas.

A conferência “Gestão de Talento no Sector da Tecnologia” decorreu esta quinta-feira, no auditório da PLMJ, em Lisboa, e é uma iniciativa da EXAME, da Exame Informática, da Randstad e da Martech Digital.

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