No-Code Marketing: Uma solução mágica ou um tapa-buracos?
Por: Ana Barros, CEO Martech Digital
Meio: Marketeer (16 de julho 2023)
Se todos os super-heróis têm o seu sidekick, o marketer tem as ferramentas no-code, uma fusão perfeita entre marketing e tecnologia. Mas será que estas ferramentas são a solução para as operações da área de marketing ou um tapa-buracos de um problema mais profundo?
Com estas plataformas inovadoras, as equipas de marketing conseguem agilizar o processo de criação e implementação de campanhas e acções tácticas. Para tal, existe uma infinidade de utilizações para as ferramentas no-code: criação de soluções de e-commerce, produção de relatórios, automação de tratamento de dados, gestão de equipas e tarefas, gestão de leads, e por aí adiante.
Entre as plataformas no-code mais utilizadas está o Canva, o “melhor amigo” de muitos profissionais de marketing, que permite criar designs super criativos, sem ter conhecimento avançado em design gráfico. Outra plataforma bastante conhecida é o Webflow, que facilita a construção de sites e páginas web sem a necessidade de programação complexa.
Ou mesmo o Hubspot, considerada como “a” ferramenta no-code, que permite criar e optimizar sites, gerar leads e contatos com facilidade e aceder a todos os dados que ajudam à análise e avaliação das acções de marketing numa óptica de assessorar o marketer para a tomada de decisões mais assertivas.
A flexibilidade destas ferramentas permite que os profissionais de marketing possam fazer ajustes e alterações rápidas, tornando dispensável a presença de profissionais de programação. E qualquer departamento entende o quão libertador pode ser não depender de terceiros.
As empresas perceberam que ao adoptar o no-code marketing poderiam reduzir custos significativos. Ou seja, projectos de programação que antes exigiam recursos humanos especializados e custos elevados, podem ser facilmente geridos por alguém dentro da própria empresa e com recurso à metodologia agile.
Com a ajuda da tecnologia a vida dos profissionais de marketing tornou-se mais simples, eficiente e autónoma. As campanhas de marketing são lançadas com mais agilidade e eficácia e os relatórios começaram a ser gerados automaticamente, fornecendo insights valiosos para orientar as estratégias futuras. A automação permite que os marketers se libertem mais do operacional e se concentrem em actividades estratégicas e criativas, a fim de construir relacionamentos duradouros com os clientes.
Estas ferramentas trazem ainda algo muito importante e que vale a pena sublinhar: democratização. Muitas empresas continuam limitadas a equipas de one men show com budgets super reduzidos. O no-code marketing pode ser aplicado a empresas de qualquer tamanho, tornando-se uma opção acessível tanto para negócios de pequena dimensão, como para grandes empresas.
Mas, nestas situações, existe sempre algo que merece uma maior reflexão: estarão estas ferramentas a tapar a poeira de um problema mais profundo?
Ora vejamos: A transformação digital chegou e com ela vieram mudanças estratégicas e operacionais nas funções e processos diários das empresas, isso é inegável. No entanto, é importante que as lideranças actuem com sensibilidade. Não é por termos ferramentas “que fazem tudo”, que devemos sobrecarregar os profissionais de marketing com funções que não são da sua responsabilidade.
Os profissionais de marketing são frequentemente comparados a canivetes suíços, pois precisam de ter uma ampla gama de habilidades e conhecimentos para lidar com diversas situações. No entanto, é importante lembrar que também estas pessoas precisam do apoio de outros especialistas, em determinadas áreas, para alcançar os tão esperados resultados. Temos assistido a um boom extraordinário do marketing em que hoje, o one men show de há uns anos, já não é suficiente.
O marketer de 2023 tem de ser um conhecedor de tecnologia e negócio e um grande maestro que saiba orquestrar as diferentes áreas. Uma área de marketing do século XXI é constituída por conteúdo, email marketing, website, social media, comunicação, relações-públicas, eventos, endomarketing, entre muitas outras sub-áreas. Ter a tecnologia ao serviço do marketing ajuda em muito a operacionalizar tudo, mas não é a solução!
Embora o no-code marketing ofereça uma ampla gama de funcionalidades e possibilidades, há momentos em que é necessário o toque de especialista. Por exemplo, o Canva pode facilitar a criação de conteúdos visuais, mas um designer profissional traz sempre uma perspectiva única e habilidades avançadas para elevar a qualidade do trabalho.
Por isso, em relação à questão que coloquei no início: estas ferramentas já estão (e muito bem) a facilitar o dia-a-dia das áreas de marketing, mas não podem ser confundidas como “um salva tudo e todos” quando há desafios mais profundos que necessitam da mão do especialista. A tecnologia é um enabler e a questão não é o que ela faz, mas sim o que podemos fazer com ela.
É fundamental encontrar o equilíbrio certo entre automatização e expertise humano. Embora as ferramentas no-code sejam uma adição poderosa ao arsenal dos profissionais de marketing, imprescindíveis para empresas pequenas com budgets limitados ou grandes empresas, é crucial reconhecer que não são a solução definitiva para todos os desafios.
Estas ferramentas devem ser vistas como aliadas, proporcionando eficiência e agilidade de processos, mas sempre em conjunto com o conhecimento, a criatividade e a experiência humana. Afinal, a combinação da tecnologia e talento é o que impulsiona a inovação e o sucesso, neste nosso mundo do marketing.
Dicas de leitura
Link to Leaders- 20 de outubro 2023
Digitalks - 31 maio, 2021
Marketeer - 30 março, 2022
Forbes - 5 de Setembro 2024